Exportações de carne bovina crescem mais de 100% para Argentina e Uruguai após tarifa dos EUA

Sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump reduziu vendas brasileiras aos EUA e impulsionou novos destinos no Mercosul.

Exportações de carne bovina de MT para Argentina e Uruguai disparam em meio ao tarifaço de Trump — Foto: Chico Valdiner- (Gcom/MT)

Com um dos maiores rebanhos bovinos do país, Mato Grosso registrou forte aumento nas exportações de carne entre agosto e setembro deste ano, principalmente para Argentina e Uruguai. O período coincide com os dois primeiros meses de vigência da sobretaxa de 50% aplicada pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros, medida que excluiu a carne nacional da lista de exceções.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 314,7 mil toneladas de carne bovina em setembro, um aumento de 25,1% em relação ao mesmo mês de 2024.

Ao g1, Valdecir Francisco Pinto Junior, médico veterinário e analista do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), explicou que a redução das compras pelos Estados Unidos abriu espaço em outros mercados regionais.

“Como Argentina e Uruguai também são concorrentes do Brasil no mercado americano, as exportações deles para os EUA aumentaram, desabastecendo o mercado interno. Com isso, passaram a comprar mais carne brasileira”, afirmou.

A professora e economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carla Beni, destacou que a alta também está relacionada ao contexto econômico e político dos países vizinhos.

“A Argentina vive uma crise que encareceu a produção interna em dólares, tornando mais barato importar do Brasil. Já o Uruguai fortalece acordos dentro do Mercosul, o que favorece o comércio regional”, explicou.

Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), as exportações de Mato Grosso para a Argentina saltaram de 314 toneladas em agosto para 686 toneladas em setembro, um crescimento de 118,47%.
Para o Uruguai, o aumento foi de 59 toneladas para 151 toneladas, alta de 55,63%.

Outro destino que ampliou as compras foi a China, que historicamente eleva o consumo de carne brasileira no segundo semestre. Em agosto, o estado exportou 54,50 mil toneladas para o país asiático, número que subiu para 60,46 mil toneladas em setembro — um avanço de quase 11%.

“A China costuma reforçar os estoques para o fim de ano, então esse aumento é esperado. O tarifaço dos EUA pode ter contribuído, mas não é o único fator”, avaliou Valdecir Pinto Junior.

O professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Feldmann, concorda que a influência americana é limitada.

“O tarifaço teve algum impacto, mas o principal é o fortalecimento da relação comercial entre Brasil e China. O mercado chinês vem absorvendo cada vez mais nossos produtos”, disse.

Ainda conforme relatório do Imea, o estado abateu 656,31 mil cabeças de gado em setembro, queda de 0,67% em relação a agosto. Desse total, 367,37 mil eram bois machos, o terceiro maior volume da série histórica.

“O resultado reflete o aumento de machos em confinamento, que ampliou a oferta estadual. Mesmo assim, os preços do boi gordo se mantêm firmes devido à forte demanda externa”, informou o instituto.

Para o quarto trimestre, o Imea projeta estabilidade no mercado, mas alerta que o abate elevado de machos jovens pode reduzir a oferta a médio prazo, pressionando os preços para cima.

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