Produtores alertam para déficit de armazenagem em MT e dificuldades com crédito do Plano Safra 2025/26

Apesar de ser anunciado como o maior da história, novo Plano Safra não tem chegado de forma efetiva aos produtores, que enfrentam juros altos e falta de infraestrutura para estocar soja e milho.

Foto: Mateus Dias / Aprosoja MT

Com o início da safra 2025/2026, os efeitos do novo Plano Safra já são sentidos pelos produtores em Mato Grosso. Embora anunciado como o maior da história, o programa reduziu a subvenção ao crédito rural e elevou os juros, dificultando o acesso a financiamentos viáveis.

A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) tem recebido relatos de agricultores que enfrentam problemas para acessar as linhas de crédito anunciadas. Segundo o diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol, o volume recorde de recursos divulgado pelo Governo Federal não se traduz em crédito real ao produtor.

“Esses recursos não têm chegado no produtor rural. Já estamos no início do plantio, e muitos não conseguiram realizar suas operações bancárias, nem mesmo para o custeio. Precisamos de linhas com juros abaixo do anunciado, além de prazo de carência, mas isso não está acontecendo. Hoje, mais de 50% da nossa safra está sem local adequado para estocagem”, afirmou Bertuol.

Em Mato Grosso, a produção de soja deve ultrapassar 47 milhões de toneladas na safra 2025/26, mas o estado possui apenas 53,4 milhões de toneladas de capacidade de armazenamento, que também precisa atender à produção de milho, que na última safra superou 54 milhões de toneladas. O déficit somado para as duas culturas supera 52 milhões de toneladas, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA).

O vice-presidente da Aprosoja MT, Luiz Pedro Bier, destacou que a falta de infraestrutura aumenta os gargalos logísticos e reduz o poder de negociação do produtor:

“Temos menos capacidade de armazenamento do que seria o mínimo. Construir armazéns é caro, os financiamentos são burocráticos e, com os juros atuais, inviáveis. Quanto menor o armazém, mais caro o custo por saca. Por isso, pequenos e médios produtores são os mais impactados”, afirmou.

A falta de espaço leva muitos produtores a recorrer a soluções improvisadas, como silos bolsa, além de enfrentarem escassez de caminhões e altos custos de transporte no período de colheita. Embora o Plano Safra inclua o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), os valores ainda não chegam aos produtores, atrasando obras e ampliando riscos logísticos.

Segundo Bier, o problema vai além do produtor e impacta a segurança alimentar nacional:

“Qualquer imprevisto em portos ou crises geopolíticas podem deixar o Brasil refém, sem condições de escoar sua safra. Sem espaço para armazenar, poderíamos perder até metade da produção de Mato Grosso, um prejuízo bilionário com reflexos em toda a economia do país”.

O presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, reforçou que a situação é nacional e agravada pelos juros altos e redução de recursos:

“Produzimos 350 milhões de toneladas de grãos este ano, mas temos déficit de mais de 120 milhões de toneladas em armazenagem. O crescimento da produção supera a construção de armazéns. Com juros altos e menos recursos, investir em armazenagem se torna ainda mais difícil. É necessário que o governo crie políticas públicas e benefícios fiscais para incentivar a construção de armazéns próprios e garantir a soberania alimentar do país”, explicou.

O setor produtivo segue em alerta, defendendo linhas de financiamento mais acessíveis, prazos alongados e menos burocracia para destravar investimentos estratégicos que assegurem sustentabilidade, competitividade e segurança alimentar.

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