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Uma reportagem revelada pelo site Metrópoles trouxe à tona o uso de R$ 8 milhões de verba pública em um evento de palestras sobre violência contra a mulher, organizado pelo governo do estado de Mato Grosso, com recursos de emenda parlamentar da Assembleia Legislativa. O evento, chamado "Elas Têm Poder", ocorreu em 16 cidades do estado entre junho e agosto de 2024, mas foi criticado por altos custos e baixa adesão.
Segundo a reportagem, o evento contou com palestrantes como uma coach de emagrecimento e uma drag queen comediante, o que gerou controvérsia. Embora a expectativa fosse de 300 a 500 participantes diários, imagens divulgadas mostraram auditórios com cadeiras vazias. Além disso, o evento, que tinha como objetivo promover a autoestima e apoiar vítimas de violência doméstica, foi marcado por gastos acima do normal para os serviços prestados.
O levantamento realizado pela reportagem do Metrópoles apontou que os custos do evento foram significativamente elevados. Entre os serviços contratados, foram pagos R$ 25 mil pelo aluguel de um drone para captação de imagens aéreas e R$ 9,6 mil para fotografia, valores bem acima dos praticados no mercado. A reportagem comparou esses números com registros de preços usados por outras instituições públicas e constatou que esses serviços poderiam ser contratados por valores muito menores. O aluguel de drone, por exemplo, costuma custar cerca de R$ 2,1 mil em municípios de Mato Grosso, e o serviço de fotografia poderia ser feito por uma diária de até R$ 1,2 mil.
Outro custo destacado foi o gasto de R$ 27 mil por dia com a transmissão ao vivo das palestras, cujo resultado foi de baixa qualidade, segundo o próprio Metrópoles. O maior gasto, no entanto, foi o de R$ 238,8 mil por dia para o serviço de produção do evento, que incluía cerimonial, buffet, iluminação e som.
Além disso, um aplicativo chamado "Elas Têm Poder", lançado durante o evento e destinado a criar uma rede de apoio para mulheres, também foi alvo de críticas. O aplicativo, que custou R$ 88 mil, só estava disponível para iPhones e apresentava falhas de funcionamento após ser instalado.
O evento foi justificado com base nas altas estatísticas de violência contra a mulher no estado. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Mato Grosso registrou a maior taxa de feminicídios do Brasil em 2023, com 2,5 mortes para cada 100 mil mulheres. O combate à violência doméstica, portanto, foi uma das razões apresentadas para a organização do "Elas Têm Poder".
Após a repercussão negativa, o governo de Mato Grosso e o deputado estadual Eduardo Botelho, presidente da Assembleia Legislativa e atual candidato à prefeitura de Cuiabá, divulgaram notas sobre o caso. O governo estadual declarou que a responsabilidade pelo uso dos recursos das emendas é da organização social contratada, e que, caso sejam constatadas irregularidades, essas serão apuradas durante o processo de fiscalização e prestação de contas.
Por sua vez, Botelho afirmou que, apesar de assinar a destinação do recurso, o evento foi realizado com emendas de bancada, assinadas por todos os deputados estaduais. Ele também solicitou à Mesa Diretora da Assembleia Legislativa um levantamento completo dos resultados do evento para que as medidas cabíveis sejam tomadas, caso necessário. O deputado reforçou que o combate à violência contra a mulher sempre foi uma bandeira de sua atuação.
A organização responsável pelo evento, o Instituto Harrison Ribeiro (IHR), que contratou os fornecedores e executou os recursos, não respondeu aos pedidos de esclarecimento da reportagem do Metrópoles.
O caso gerou debates sobre o uso de recursos públicos em eventos com resultados questionáveis e sobre a transparência na contratação de serviços pelo governo de Mato Grosso. A expectativa agora é que as investigações sobre os possíveis desvios e irregularidades sejam aprofundadas, enquanto o combate à violência contra a mulher, tema central do evento, continua a ser uma pauta de extrema importância no estado.
