O aumento no preço dos ovos, que tem sido registrado diariamente nas regiões produtoras, tem gerado preocupação em supermercados, feirantes e consumidores em várias partes do Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a alta intensificou-se desde a segunda quinzena de janeiro de 2025, e os efeitos estão sendo notados principalmente no atacado, impactando diretamente o custo para os consumidores finais.
A valorização do produto ocorre em meio a uma série de fatores. A principal razão para o aumento é a busca crescente dos brasileiros por ovos de galinha como uma alternativa mais acessível às carnes, cujos preços estão mais elevados. Além disso, a proximidade da Quaresma, período tradicionalmente marcado pela diminuição do consumo de carne vermelha, aumenta a demanda por ovos. O período da Quaresma, que este ano vai de 5 de março a 17 de abril, é uma época de consumo maior, o que eleva ainda mais a pressão sobre o abastecimento.
Em nota, o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, alertou para a dificuldade enfrentada pelos supermercados. "As empresas iniciaram a programação de abastecimento das lojas para atender à demanda sazonal da Quaresma, mas a restrição na oferta e os aumentos sucessivos de preços preocupam os supermercados. Além disso, os consumidores também têm recorrido mais aos ovos de galinha devido à alta dos preços das demais proteínas", afirmou Milan.
O preço dos ovos no atacado atingiu recentemente o maior nível histórico em termos nominais, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP. Na cidade de Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo — maior produtora de ovos do país —, o preço de uma caixa com 30 dúzias de ovos brancos subiu 37,9%, alcançando R$ 233,55, comparado aos R$ 169,33 registrados em fevereiro de 2024. Já os ovos vermelhos tiveram um aumento ainda maior de 40,8%, passando de R$ 187,57 para R$ 264,21.
Na Grande São Paulo, os preços de ovos brancos subiram 18% de fevereiro de 2024 até agora, de R$ 172,49 para R$ 203,57. O preço do ovo vermelho aumentou 14,7%, de R$ 200,25 para R$ 229,78. Em Belo Horizonte, o aumento foi de 21,9% para os ovos brancos e 16,2% para os ovos vermelhos.
Apesar da forte alta no atacado, os preços nos supermercados ainda não refletem completamente esses aumentos. De acordo com a Abras, o preço dos ovos nos estabelecimentos varejistas registrou uma queda de 4,53% nos últimos 12 meses, o que contrasta com o crescimento dos preços de outras proteínas, como a carne. Contudo, o aumento observado em janeiro de 2025 foi um dos maiores já registrados, superando até os valores elevados de maio de 2023.
Outro fator que agrava a situação é a mudança nas categorias de peso dos ovos. Desde setembro de 2024, a portaria nº 1.179 do Ministério da Agricultura reduziu o peso médio dos ovos em aproximadamente 10 gramas por unidade. A nova medida estabelece que um ovo médio deve pesar entre 38 g e 47 g, contra mais de 50 g exigidos pela norma anterior. Essa mudança tem gerado insatisfação entre os consumidores, que sentem impacto no custo-benefício do produto.
Além do aumento de preços no Brasil, os Estados Unidos também enfrentam uma crise semelhante. O preço dos ovos aumentou 15% em um mês, com prateleiras vazias e o receio de novos surtos de gripe aviária, o que tem gerado grandes repercussões no mercado norte-americano. A escalada no preço dos ovos foi um dos principais argumentos usados por Donald Trump durante sua campanha presidencial para criticar a gestão da inflação pelo governo Biden.
Com a expectativa de que os preços sigam pressionados até a Quaresma, o desafio para os consumidores deve persistir nas próximas semanas, enquanto a oferta de ovos no mercado continua restrita e as alternativas para a compra do alimento se tornam mais caras.