A Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) identificou mais três corpos dos 23 encontrados enterrados em cemitérios clandestinos de Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, municípios localizados a 218 km e 360 km de Cuiabá, respectivamente. As buscas ocorreram entre janeiro e fevereiro, no âmbito de investigações sobre desaparecimentos.
Os resultados foram obtidos por meio de exames genéticos realizados com amostras fornecidas por familiares das vítimas. O avançado estado de decomposição tem dificultado a identificação dos corpos. Até o momento, 11 vítimas foram identificadas, e as causas das mortes seguem sob investigação.
Em fevereiro, 11 corpos foram encontrados enterrados em uma área de mata na região da Vila Goulart. A localização ocorreu durante as buscas por Pollicarpo Ferreira Alves, de 38 anos, desaparecido desde 13 de dezembro de 2023.
Neste sábado (29), a Politec divulgou a identificação de mais duas vítimas:
Lucas Davi da Silva Farias
Pollicarpo Ferreira Alves
Segundo a Delegacia de Homicídios do município, a principal linha de investigação aponta para a atuação de uma facção criminosa. Algumas vítimas foram encontradas com pés e mãos amarrados, além de pertences, como calçados e roupas, espalhados pelo local.
Anteriormente, já haviam sido identificados:
Luiz Otávio de Souza, de 25 anos, natural de Rondonópolis (MT);
Carla Bruna da Silva Lima, de 35 anos, natural de Lago da Pedra (MA).
Em janeiro, 12 corpos foram localizados em covas clandestinas em uma área isolada do município. O último corpo identificado foi:
Fabiano Mendes Leite
Segundo o delegado Allan Vitor Sousa da Mata, a área já era investigada devido a registros de homicídios, sequestros e desaparecimentos. Parte dos corpos estava em processo de esqueletização, enquanto um deles ainda apresentava sinais de putrefação, indicando morte recente.
Anteriormente, haviam sido identificados:
Rafael Pereira de Souza, de 35 anos, natural de Rondonópolis (MT);
Andris Nadales, de 19 anos, natural da Venezuela;
Wilner Alex de Oliveira Silva, natural de Poxoréu (MT);
Matheus Bonfim de Souza, de 18 anos;
Um adolescente de 15 anos, natural de Lucas do Rio Verde (MT);
Adriano da Conceição Borges, de 30 anos, natural de Lucas do Rio Verde (MT).
A Politec informou que Adriano estava desaparecido desde março de 2024, e o adolescente desde setembro de 2023. Quatro vítimas foram identificadas por impressões digitais e já foram liberadas para sepultamento.
Diante das dificuldades na identificação, alguns corpos foram encaminhados a Cuiabá para exames de DNA. A Politec orienta familiares de pessoas desaparecidas a comparecerem a unidades de Medicina Legal para coleta de material genético, que será confrontado com o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG).
O procedimento é gratuito e indolor, sendo necessário que o doador tenha parentesco de primeiro grau com o desaparecido (pai, mãe, filho ou irmão).
A violência associada ao crime organizado tem deixado um rastro de brutalidade em Mato Grosso. Em Tangará da Serra, os corpos de Anna Clara Ramos Felipe e Ayla Pereira dos Santos, ambas de 18 anos, foram encontrados em uma área de mata, em janeiro. As execuções foram transmitidas por videochamada para um preso da Penitenciária Central do Estado (PCE), investigado por ordenar os assassinatos.
Em 2023, a adolescente Gabriela da Silva Pereira, de 16 anos, foi torturada e morta em Cáceres após criticar a qualidade de drogas vendidas por uma facção. No mesmo ano, em Porto Esperidião, as irmãs Rayane Alves Porto e Rithiele Alves Porto foram assassinadas após fazerem um gesto associado a um grupo rival durante um evento.
O Atlas da Violência 2024 e o Monitor da Violência apontam que Mato Grosso registrou 919 homicídios dolosos, 15 latrocínios e dois casos de lesão corporal seguida de morte em 2023, totalizando 936 crimes violentos.
Diante da escalada da criminalidade, o governo estadual lançou, em novembro de 2024, o programa 'Tolerância Zero ao Crime Organizado', que prevê:
Criação de quatro novas delegacias especializadas;
Convocação de mais de 300 servidores para a Segurança Pública;
Estruturação da Sejus-MT, secretaria criada para reforçar o combate ao crime.
A Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) havia sido extinta em 2019, e suas atribuições passaram à Secretaria de Segurança Pública (Sesp-MT). Com a retomada de uma pasta específica para o setor, o governo espera aumentar a eficiência no enfrentamento às facções.